sábado, 31 de janeiro de 2015

Quina Mineira é a Vieirina?

Os primeiros historiadores do Brasil, em suas referencias as plantas medicinais e às endemias então reinantes, silenciaram a respeito dos principais vegetais atualmente usados como febrífugos. Gabriel Soares, Fernão Cardim, Gandavo, Piso e Marcgrav não se referem às plantas conhecidas por Quinas.
Remijia ferrugínea , St Hill
Foi preciso surgir Quineiras peruanas, com seu cortejo de benefícios, para que também aparecessem as numerosas Falsas Quinas nacionais.
O aparecimento em nosso país, de numerosas plantas denominadas como Quina, teve início o premio de valor instituído pelo governo colonial aquele que descobrisse uma Quiona igual a do Peru.
Quina d Piaui ou Quina de D. Diogo, a qual foi posteriormente classificada como Exostema Souzanum, Mart, passando depois para Coutarea hexandra, Schum, tida naquela época como um ótimo sucedâneo das legitimas Cinchona.
Velloso dedicou estudos desta planta, uma de suas notáveis obras, a Quinografia Portugueza.
Dentre estas espécies vegetais, ressalta como a de uso mais difundido, a conhecida por Quina de Remigio ou Quina da Serra. Esta, foi estudada pela primeira vez em 1850, pelo Dr Vieira de Mattos, a qual isolou de suas cascas, uma mistura complexa e muito amarga, de grande voga no século passado e a qual chamavam impropriamente Vieirina ou Vieirino.
St Hilairie atribuiu esta droga a atual Remijia ferrugínea (St. Hill) D.C. (Cinchona ferrugínea, ST Hilaire).
Ladenbergia hexandra
Outra espécie de uso também bastante difundido, é a conhecida por Quina do Rio Quina de folha larga ou Quina vermelha do Rio, a Ladenbergia hexandra (Pohl) Klotsch
A Farmacopeia Brasileira, também atribui a planta atualmente conhecida como Quina mineira, Quina da serra, Quina de Remigio e Quina remijio, a mesma origem indicada por Saint Hilaire; todavia, examinando numerosas partidas da droga existente no comercio do Rio de Janeiro sob esta denominação verificamos que tal não acontecia. As cascas assim expostas a venda foram extraídas de árvores de grande porte, contrariamente as que podem fornecer os exemplares de Remijia ferrugínea ( S. Hil.) D. C, pequeno arbusto.
Com material botânico completo, obtido de material existente na Parada Joaquim Ovidio, Estado do Rio, tivemos ocasião de determinar a espécie fornecedora de tal droga, a Ladenbergia hexandra (Pohl) Klotsch, mencionada nas obras a respeito, como fornecedora da Quina do Rio, Quina de folha larga, Quina vermelha do Rio, etc.
Confrontamos a droga fornecida pela Ladenbergia hexandra com que fornece a Remijia ferrugínea ( St. Hill) D.C.
Esta última era proveniente de material completo que devemos a gentileza ao botânico Dr. Mello Barreto, chefe do Horto Botânico de Belo Horizonte.
No entanto, nunca tivemos oportunidade de encontrar um só grama das cascas provenientes de exemplares da Remijia ferrugínea (St. Hil).
Uma dúvida no entanto persiste; é verificar si a Vieirina, tão empregada no século passado, foi extraída de cascas de legitima Remijia ferrugínea ou de casca de Ladenbergia hexandra.


Bibliografia: Peckolt, Oswaldo de Lazzarini – Revista da Flora Medicinal - 1938

domingo, 25 de janeiro de 2015

Bauhinia forficata, Link e seu estudo fármaco-químico

Sob  denominações vulgares de Unha de vaca, Pata de vaca., Unha de boi, Unha de boi de espinho, Unha d’anta, Pata de burro, Unha de veado, Moroó, Miroró e de Baunia, são muito usadas pelo povo algumas espécies do gênero Bauhinia, dentre as quais se salientando por sua maior difusão e uso, a Bauhinia forficata, Família das Leguminosas, sub-família das cesalpineas.
Folhas de Bauhinia forficata.
Em todas as investigações. Verificamos que, quimicamente, mesmo as espécies exóticas, são ainda muito mal conhecidas. Nossas primeiras investigações químicas sobre a Pata de vaca, datam de 1934, ano em que, justamente como colega farmacêutico Renato Dias da Silva, iniciámos uma análise desta planta para a qual, tínhamos já a atenção voltada desde os primeiros trabalhos farmacológicos apresentados por Carmela Juliani.
O primeiro cuidado que tivemos foi aproveitar o material fresco de que dispúnhamos para realizar a pesquisa de glicoside pelo método bioquímico de Bouquelot. Esta pesquisa deu-nos resultado positivo, que nos fez concluir pela presença de uma heteroside a que denominámos Bauinoside.
Em nossas primeiras investigações procedidas sobre a Pata de Vaca, em 1934, havíamos ainda observado a presença do ácido tartárico, que agora vemos também confirmado nos recentes e magníficos trabalhos de Rabaté e Gourévitch.
Além da glicoside, pudemos verificar também nas folhas da Bauínia, a presença de um Alcaloide, cuja identidade não nos foi ainda possível estabelecer, não só por falta de tempo, mas sobretudo por deficiência da capacidade do vasilhame de laboratório de pesquisa, que não permite trabalhar com material em quantidade suficiente para o isolamento de princípios imediatos em proporções capazes de facultar a determinação de suas constantes físico-químicas.
Emprego Terapêutico
Não se sabe até o momento presente, a qual dos princípios imediatos da Bauhínia forficata se deve atribuir sua ação hipoglicemiante de há muito observada empiricamente em seu emprego como antidiabético, e de maneira científica demonstrada por Carmela Juliani desde 1930, em concludentes experiências farmacodinâmicas e rigorosas observações clínicas.]Não há dados seguros que autorizem atribuir tal ação, quer à glicoside, já agora conhecida, quer ao alcaloide ou talvez mesmo, ao tanino existente na planta.
Além da ação hipoglicemiante, possue a pata de vaca propriedades, bem comprovada que faz muito pareciada na medicina popular. No Rio Grande do Sul é muito comum o uso de seu decocto juntamente com o mate chimarrão, pelas pessoas que sofrem de gonorreia.
Há indicações também para o tratamento da Lepra, da elefantíase e mordedura de cobras.
Martius a indicou como emoliente. De todos os autores há indicação como diurética, antiblenorrágica e vermífuga, nas raízes; finalmente propriedades purgativas, nas flores. O Profº Dias da Rocha manda usar as cascas do caule, em decocto, na proporção de 4:250, para ser usado em xícaras, três vezes ao dia, para combater as tosses e bronquites.
Entendemos que a melhor maneira de usar Unha de vaca é em extrato fluído praparado com a planta ou estabilizada.

Bibliografia: Revista da Flora Medicinal, Farm. Oswaldo de Almeida Costa, 1940


domingo, 18 de janeiro de 2015

A era do remédio simpático

Superstição curiosa era a ideia de um remédio simpático. A noção era que no caso de uma ferida o remédio devia ser aplicado não sobre a ferida propriamente porem sobre o objeto que causara a ferida. A ferida era pensada, é certo; porém o machado, a faca, ou outro instrumento causador do golpe era tratado com pomada ou qualquer unguento curativo. Um pouco do mesmo modo como nós dizemos às crianças pequenas quando elas batem contra o poste, ou são projetadas dos seus carrinhos: “Poste malvado! Carrinho mau”! Paracelso, que tornou popular o remédio simpático, acreditava “que a aplicação da pomada na arma contundente atuava sobre a ferida por meio de uma corrente magnética através do ar”.
Urtiga doica
Uma superstição que persiste até aos nossos dias em algumas regiões do páis é que se alguém foi envenenado por uma planta, por exemplo a era venenosa, outra planta (Comigo ninguém pode, Lobelia), que é um antidoto contra veneno, será achada crescendo nas proximidades da planta venenosa: encontra-se perto da urtiga (Urtiga dioica) o rumex de folha larga que dizem ser antidoto do veneno urticante.
Com o princípio da colonização da América (Jamestow, 1607; Plymouth, 1620) a pratica da medicina e da farmácia teve o seu início neste país. “Existem alguns médicos e boticários muito educados em cada uma destas colônias, porem na sua maior parte a pratica da medicina consistia de empirismo e a aceitação do folclore índio”. Nenhum fomento ou reconhecimento da educação profissional ou outra qualquer foi prestado por qualquer destas colônias locais. Nas colônias de influência espanhola e francesa, os padres, e particularmente os jesuítas, foram o fator mais importante no desenvolvimento da farmácia e da medicina.
Uma autoridade na matéria diz respeito deste período: “Qualquer pessoa que conhecesse a diferença entre calomelanos e o tártaro emético, entre a jalapa e a ipecacunha, e tivesse a ousadia de empregar, que pudesse fabricar e aplicar unturas e emplastros, pensar feridas ou aplicar talas em um membro quebrado, era bem recebido na colônia e davam-lhe o título de doutor sem ele mesmo o pedir”.
Em 1765, estabeleceu-se a primeira escola médica dos Estados Unidos na Universidade de Pensilvania e ali era ensinada a farmácia, sendo assim introduzida na América do Norte a pratica de receitar. Foi neste lugar que Adam Kuhn, um dos discípulos de Lineu, se tornou em 1768 o primeiro professor de botânica e matéria médica nos Estados Unidos. Em 1790 publicava o primeiro jornal sobre o tema em Nova York.
Nos séculos XIX e XX as invenções, descobertas, aperfeiçoamentos e novo métodos deste ultimo período são numerosos de mais para que se possa sequer enumerar. Por meio do microscópio composto aperfeiçoado, a natureza do protoplasma, isto é, a matéria viva das células das plantas e dos animais foi demonstrada durante a primeira metade do século XIX por Von Mohl, Schleiden e Max, Schulze; e Pasteur (1822 -1895) estabeleceu os fundamentos da ciência da bacteriologia com seu trabalho sobre as bactérias, que incluem plantas da maior importância em medicina. Neste caso, contudo, estas plantas mostraram ser em geral antes a causa do que a cura da doença.
Bibliografia: Revista da Flora Medicinal – 1945 – Graves, Arthur Harmount – Resumo da História das Plantas Medicinais


domingo, 11 de janeiro de 2015

A Doutrina da Signatura

No século XVI a velha “Doutrina da Signatura” que  se diz ser de origem chineza muito antiga, ainda florescia, tendo sido posta em proeminência por Paracelso (1493- 1541). A ideia era baseada na crença que o Criador, ou qualquer poder sobrenatural, procura mostrar a humanidade por meio da semelhança de uma planta ou parte de planta com um órgão do corpo humano que aquela planta ou parte de planta é destinada a ser usada como remédio para uma doença do órgão ao qual se assemelha. Assim, um fruto da romãzeira quando aberto tem sementes que se pode dizer assemelham-se aos dentes soltos. Daí ela deve ser usada para os males dos dentes.
Mandragora
A hepática ou folha do fígado, tendo uma folha que se diz parecer um fígado humano devia ser tomada em qualquer veículo, infusão ou tintura, para as doenças do fígado. A doutrina expandiu-se até incluir plantas que tinham semelhança com animais venenosos. Assim, uma planta com a haste ou as folhas pontilhadas como uma cobra venenosa seria um bom antidoto para mordedura dessa cobra. Os minerais foram também incluídos, assim, sulfureto de mercúrio ou cinabrio, de uma cor vermelho de sangue, seria excelente para as doenças do sangue.
As superstições associadas com a mandrágora levam-nos aos artigos “rizotomos” e fazem-nos recordar a doutrina das signaturas. A mandrágora europeia é a Mandragora officinarum, uma erva da família das solanáceas é indígena no sul da Europa e no norte da África. A sua raiz é longa, grossa e algumas vezes bifurcada e admitia-se que quando arrancada fazia muito lembrar a forma humana, de fato dizia-se que havia planta masculina e feminina. A raiz acreditava-se que tinha grandes poderes curativos e aconselhava-se uma maneira muito especial de arrancá-la, pouco mais ou menos como se segue: (1) acavação deve ser feita durante a noite quando a planta “brilha como uma lâmpada”. Então logo que alguém a vê deve bater-lhe na cabeça com um ferro a fim de que não escape; depois cavar a roda dela com um instrumento de marfim, mas sem a tocar. Arrancá-la do chão era operação que implicava grande perigo para o operador.; por isso a parte superior devia ser amarrada a um cão que depois se chamava para assim arrancar a mandrágora.
Simon Forman, membro do Magdalen College escreveu a cerca da mandrágora em 1603 “Também eu tenho conhecimento de que o velho dito se mostrou verdadeiro, de que quem quer que arranque uma mandrágora morrerá dentro do prazo de um ano, e alguns há que dizem terem nas ouvido gritar ou gemer quando foram arrancadas”.,..
A nossa mandragra americana é uma planta inteiramente diferente, Podophyllum peltatum, da família das Berberidaceas, comumente chamada Maça de Maio. É interessante notar que a mandrágora europeia não está mais farmacopeia dos Estados Unidos, porem a raiz principal da mandrágora americana fornece uma droga importante, a Podofilina, sob a forma de uma substancia resinosa toxica chamada resina de podofilo, empregada como catártico.

Bibliografia: Revista da Flora Medicinal – 1945 – Graves, Arthur Harmount – Resumo da História das Plantas Medicinais

sábado, 3 de janeiro de 2015

História dos medicamentos na renascença

Flamel Perenelle
Nos séculos XIV e XV, como é geralmente conhecida estabelece e transição entre a Idade Média e a História Moderna. Seu princípio e duração (de aproximadamente a queda de Constantinopla em 1452, ao Saque de Roma, em 1527) varia mais ou menos com a arte, filosofia, ciências e outros ramos da cultura e do saber. Foi caracterizada pela “revivescência do saber” a redescoberta de clássicos gregos e latinos e o desenvolvimento do “Humanismo”.
A farmácia e a medicina, praticadas originalmente pela mesma pessoa, tornaram-se bem reconhecidas durante A Renascença como profissões separadas e foram consideradas com crescente respeito, sendo uma razão que elas eram muito procuradas por causa da prevalescencia das doenças epidêmicas daquela época. A lepra e ergotismo (causado pela alimentação com pão de centeio no qual o centeio tinha sido infectado, pelo fungo do esporão de centeio) e a peste negra ou peste oriental eram então comuns. Está registrado que havia 200 casas de lázaros (casas de doentes) na Grã Bretanha e mais 2 mil na França. A peste negra foi responsável pela perda de 25% da raça humana nos séculos XIII e XIV, um total avaliado em 600 milhões de seres.
Os trabalhos de Chaucer (1340-1400), em que ele ironiza o médico e o boticário, refletem um íntimo conhecimento destas profissões. Nos seus “Canterbury Tales” ele diz do médico e seus estudos são apenas um bocadinho da Bíblia.
Durante os séculos XIV e XV a procura da pedra filosofal e do elixir da longa vida continuou com afinco e persistência como o atestam enfaticamente as vidas de Aladino de Lisle, Ferarius, Flamel, Peter Bono, Basílio Valentim, Bernardo Trevisan, e outros.
Uma inovação de tremenda importância, afetando profundamente cada domínio do saber, data de cerca de 1450, a saber a invenção da prensa pelo uso dos tipos moveis. Por meio desta invenção o conhecimento podia srr difundido muito mais facilmente, porque nos devemos lembrar que até aquela época todos os livros tinham que ser escritos à mãos.
A descoberta da América por Colombo em 1492 está relacionada de um modo direto com a medicina porque muitas drogas e espécies eram dispendiosas e difíceis de obter porque eram trazidas pelos caminhos terrestres das caravanas que vinham do longínquo Oriente, ou de longas distâncias nos mares infestados pelos piratas. Daí a procura de Colombo por um caminho mais fácil para a Índia navegando para o ocidente.

Bibliografia: Revista da Flora Medicinal – 1945 – Graves, Arthur Harmount – Resumo da História das Plantas Medicinais