quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A ação dos micróbios no mundo das cirurgias

Uns tantos médico no mundo do sculo XIX tentavam de todas as maneiras acabar com o matadouro que os hospitais eram. Cegamente por intuição, recomendavam mais ar nas enfermarias, lavagem das paredes com lixivia e muitas vezes completo abandono de certos prédios, irredutivelmente maus.
Num deles, o chefe da clinica costumava afixar anualmente um aviso: “vai entrar a estação da erisipela nas enfermarias; ficam suspensas as operações até março.”
No Hospital de S. Thomas, em Londres, havia uma desbotada advertência na parece da sala onde os estudantes dissecavam cadáveres putrefatos. “Os que estiverem dissecando ou fazendo qualquer trabalho post-mortem, devem lavar as mãos com solução de soda cloratada antes de irem ver os pacientes.” Mas ninguém se incomodava com isso; e quem acaso tomasse o aviso ao pé da letra, não encontraria a “solução de soda cloratada”.
Em Budapeste o aloucado Ignaz Semmelweis procurava em vão convencer o mundo
médico de que a culpa das tais “doenças dos hospitais” cabia aos próprios médicos, que de passagem de uma enfermaria a outra iam levando consigo o contagio. Mas a maioria dos cirurgiões curvava-se diante do “fardo da profissão” e reclamavam dos horrores subsequentes ás operações eram inevitáveis. “Suprimir o pus! Oh, mas isso não é desejável! Afinal de contas o pus é necessário para que a ferida se feche”. E quanto à sugestão de que os doutores eram os responsáveis por tantas mortes, a resposta era: “Senhor, nós não apreciamos os vossos insultos!”
E assim até que em 1860 o Dr. Joseph foi para Glasgow como professor de cirurgia da universidade. Durante quatro anos esse homem combateu a podridão dos hospitais, avassaladora em todas as enfermarias. Por quatro anos fez as enfermaria e os cirurgiões da casa lavarem as mãos frequentemente (“O bobo! Não vamos sujá-las de sangue novamente?”). Por quatro anos lutou com a diretoria do hospital por motivo de mais toalhas limpas, pensos bem lavados para o tratamento das feridas, e mais e mais desodorantes.
Certo dia, no outono de 1864, Lister saiu do hospital acompanhado de seu companheiro de professorado, o químico Thomas Anderson.
- Escute, Lister, perguntou Anderson. Qual é a sua opinião sobre esse camarada Louis Pasteur?
- Pasteur? Louis Pasteur ? repetiu Lister franzindo os sobrolhos. Não me recordo de tal nome. Francês?
- Sim, e notável. Não o conheço pessoalmente, mas estive lendo seus artigos no Comptes Rendus. Anda a fazer novidades com as bactérias. Diz que elas são as responsáveis pela putrefação e a fermentação.
- Ideia interessante, não há dúvida. Bacterias, sim ...
- Bacterias e outros micróbios. Podem ser os causadores da putrefação das feridas e da formação do pus que tanto atrapalha você operadores.
Lister tomou o caminho de sua casa e refletiu naquilo. E como fosse um constante investidor, dirigiu-se logo a biblioteca e leu os artigos de Pasteur nos jornais médicos da França. “É extraordinário!” pensou. “Com o que já descobriu em suas experiências, creio que... Mas serão os micróbios os causadores das doenças? Inacreditável e no entanto...” E Lister virou o caçador de micróbios.

Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943.


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