quinta-feira, 15 de setembro de 2016

O pintor de micróbios caça doenças

Paul Ehrlich, o influenciador da vida de milhões de criaturas as quais salvou de triste morte, foi por sua vez muito influenciado por dois homens. Um, seu primo Carl Weigert, o solitário, patologista que gastou vinte anos a colorir as fibras nervosas de modo que pudessem ser observadas ao microscópio. Outro, Robert Koch, o medico rural que revolucionou a caça ao micróbio com a descoberta do bacilo da tuberculose e de mais outros facinorosos serezinhos e afinal encerrou a sua espetacular carreira com uma ainda mais espetacular aventura de amor: fugiu com uma corista.
Paul Ehrlich - Prêmio Nobel de Biologia
Em 1876 Koch de seu pequeno laboratório rural para o posto de médico municipal da cidade de Breslau. No primeiro dia em que saiu a visitar a escola medica os emperrados e nada cordiais professores acompanharam-no gravemente. No departamento de patologia indicaram-lhe um jovem estudante numa mesinha cheia de colorantes.
- É o nosso pequeno Ehrlich, um excelente coloridor de tecidos mas que nunca passará nos exames.
O pequeno Ehrlich de fato nunca passou nos exames, porque nunca se interessou por eles. Andou de escola em escola, de Breslau a Strasburgo, de Strasburgo a Leipzig, deixando atrás de si todas as mesas sarapintadas, e os professores a sacudirem a cabeça.
- Ehrlich? Ah, um abominável estudante. Não aprende coisa alguma. Não decora nada. – mas é mestre em tintas. Devia ter-se dedicado á pintura.
Seus professores podiam tê-lo barrado das classes, que ele aliás pouco frequentava, porque Ehrlich não era o tipo do bom estudante de medicina – mas os professores daquele tempo não davam muita atenção a tipos de estudantes e coisas assim.
Se o professor de matéria medica acusava Ehrlich de não saber de cor as milhares de drogas existentes, outros professores intervinham: “Tenha paciência com o rapaz. Quem sabe se com aquela mania de tintas ainda não acaba fazendo uma grande descoberta? Pode encontrar algum novo meio de diagnóstico ou descobrir algum novo tecido ou célula”. E desse modo foi decidido que se Ehrlich desejava levar o seu curso de medicina daquele modo tão irregular, que levasse, só ele tinha a ver com isso.
Ehrlich teve de prolongar o curso por mais um ano, mas afinal diplomou-se – não que passasse nos exames, mas porque seus mestres levaram em consideração as suas experiências praticas. E por meio daquele irregularismo desvio dos sistemas de pesquisas acabou criando um novo ramo da ciência do sangue.
Por aquele tempo o jovem cientista já havia descoberto cinco novas qualidades de células sanguíneas.
Se Ehrlich começou como mau estudante, continuou como péssimo médico. Quando os colegas saiam a correr as enfermarias, ele ficava em sua mesa a colorir finíssimas fatias de fígado. E se acaso visitava um doente, deixava-lhe nas roupas do leito manchas de vermelho ou laranja. Se chamado para atender um parto, interessava-se mais em obter um bom fragmento de tecido placentário do que notar o peso, o sexo e o estado da criança.
Nada interessava Ehrlich, só colorir tecidos e pesquisar bactérias.
Bactérias! Aqueles microscópicos serezinhos precisavam de cor; eram tão insignificantes que o médico tinha dores de cabeça do esforço de vê-los no microscópio. E de que outra maneira poderia saber se um tecido estava infeccionado, se não podia distinguir as bactérias? Mas e pudesse dar cor ás bactérias, seria fácil diagnosticar a infecção causadora duma morte!

Bibliografia: Mágica em Garrafas, A história dos Grandes Medicamentos – Milton Silverman – tradução de Monteiro Lobato – Cia Editora Nacional 1943

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