sábado, 13 de maio de 2017

As boticas e o ensino de farmácia no Brasil

A cidade de São Paulo em 1765 tinha três boticários, Francisco Coelho Aires, com seu comércio e moradia na rua Direita, Sebastião Teixeira de Miranda na atual rua Alvares Penteado e José Antônio de Lacerda na Praça da Sé.
A Real botica de São Paulo estava instalada onde hoje é o Vale do Anhangabaú precisamente, onde está o antigo prédio do Correio. O prédio para instalar esta primeira botica oficial na cidade foi construído em 1796 e demolido em 1916.

No tempo da Real Botica os remédios eram, na sua grande maioria, plantas medicinais, porém desde 1730 o brasileiro usava o mercúrio e o arsênico importados da Europa.
O ópio, a escamoneia, a rosa, o sene, o manacá e a ipeca já faziam parte dos remédios necessários para funcionamentos de uma botica. Pomadas e linimento tinham grande consumo, aliás o produto mais consumido era a pomada alvíssima, além do bálsamo católico, de Copaíba e a Água Vienense, que só entrou em desuso no começo do século XX.
As boticas do Rio de Janeiro, no entanto, eram adornadas “com estilo muito mais luxuoso que o comum das casas de comércio, isto é, de muito bom gosto. Em vez de balcão, como se costumava ter, tinham bem no meio uma espécie de altar, com a frente ornamentada com pintura e dourados; o motivo mais comum na pintura era alguma paisagem, um naufrágio ou um simples ramalhete de flores. Acima, no altar, a balança, os pesos, dois ou três livros velhos, oráculos, sem dúvida, da arte de curar”.
Os utensílios de laboratório, sempre despertou no cliente um olhar respeitador bem como muita curiosidade. Talvez por suas formas singulares, tão diferente da maioria dos objetos corriqueiros, talvez por indicarem ao leigo de alguma forma, as transformações que nestes locais se faziam, Na porta dos laboratórios o aviso “Proibida a Entrada”, só entravam o boticário, vestido com sua bata branca, e os auxiliares, geralmente moços de manga de camisa. O freguês ficava a espera da receita, que levava no mínimo uma hora para ser aviada além da grade de madeira ou de ferro.
Quando a família real portuguesa ruma para a colônia Brasil, o futuro país não tinha conseguido fazer chegar as suas terras qualquer dos avanços científicos que a Alemanha, França e Itália desfrutavam.
O Brasil era colônia portuguesa esquecida pela rainha D. Maria I, “A Louca”.
Não havia faculdade, as ciências de uma maneira geral eram privilegio dos que podiam estudar em Lisboa, Paris ou Londres.
Foi depois da vinda da família real, (1803) que o país, ainda colônia, adquiriu o direito de acompanhar os movimentos culturais e científicos do velho continente em curso a mais de um século.
O primeiro passo largo rumo a modernidade foi encabeçado pelo príncipe regente D. João VI, que admirava os estudos de história natural, bem como o trabalho dos naturalistas.
Em 18 de fevereiro de 1808, instituiu os estudos médicos no Hospital Militar da Bahia, por sugestão do cirurgião-mor do reino, Dr José Correia Pincanço, futuro Barão de Goiana, com ensino de anatomia e cirurgia, porém o ensino de farmácia só iniciou em 1824.
A intenção de D. João VI era formar médicos e cirurgiões para o exército e marinha, onde estava a elite econômica da época.
No Rio de Janeiro o rei instituiu o curso de medicina em 1809. Este curso era composto das cadeiras de medicina, química, matemática médica e farmácia. O primeiro livro desta faculdade foi escrito por José Maria Bontempo, primeiro professor de farmácia do Brasil, e chamava-se “Compêndios de Matéria Médica” e foi publicado em 1814.
Em 1818 o farmacêutico português instalado no Rio de Janeiro, José Caetano de Barros abriu o ensino gratuito a médicos, boticários e estudantes no laboratório de sua farmácia, sendo que as aulas de botânica eram dadas pelo carmelita pernambucano Frei Leandro do Sacramento, diretor do Jardim Botânico, e professor dessa disciplina na então Escola Médico Cirúrgica. As aulas de Frei Sacramento eram ministradas no Passeio Público do Rio de Janeiro.
Dentre os discípulos de José Caetano de Barros, destacava-se Ezaquiel Correa dos Santos, que veio a ser um dos pioneiros da farmácia no Brasil. Seu filho também farmacêutico tornou-se catedrático de farmácia na Faculdade de medicina do Rio de Janeiro entre 1859 e 1883.
O ensino de farmácia aconteceu em 1925 quando o curso passa a ter uma faculdade de farmácia, filiada, como a de cirurgia, botânica e medicina a Universidade do Rio de Janeiro.


(continua)

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